Palavras do Episcopaz acerca de bíblia e sexualidade


Parte integrante do material entregue a cada delegado no Sínodo da IEAB em 16/11/2013.

Querido irmão, querida irmã.

 Você deve ter chegado ao Sínodo estupefato(a) e tenso(a). A Internet e as redes sociais tornam qualquer discussão muito mais ampla e, possivelmente, polarizada.

Hoje discutimos abertamente sobre a natureza da aceitação de pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais) na vida da Igreja. Mais especificamente, discutimos sobre a possibilidade (ou não) de termos bênçãos de uniões entre pessoas do mesmo sexo que sejam pautadas por fidelidade, monogamia, amor mútuo e compaixão, à semelhança do matrimônio heterossexual, entre homem e mulher, mulher e homem.

Em declarações oficiais, nossas autoridades eclesiais têm falado muito sobre isso. Vejam só.

As relações sexuais, exercidas no contexto do amor e do respeito mútuo, não só devem ser aceitas, mas também consideradas como as coisas boas que Deus criou.

Carta Pastoral “Sexualidade Humana” dos Bispos, 1997


Entendemos que a sexualidade humana é dom de Deus e que deve ser vivenciada em paz, liberdade, amor e respeito ao próximo. Que a Igreja deve respeitar a privacidade das relações afetivo-sexuais de seus membros, sejam eles do clero ou do laicato.

II Consulta Nacional sobre Sexualidade Humana da IEAB, 2004


Reafirmamos que cremos na inclusão. O estabelecimento de fronteiras ou divisões entre as pessoas, os grupos e os povos é fruto da exclusão que nos cega dentro de nossos limites e do dogmatismo fanático e inibidor da liberdade humana. Sob o amor ilimitado de Deus devemos construir os alicerces para a concretização de nossos sonhos. O Espírito Santo age por meio deles na construção de uma nova humanidade. Esta nova humanidade se realiza na aspiração de Nosso Senhor Jesus Cristo de que “todos sejam um”.

Carta Pastoral “Sexualidade Humana” dos Bispos, 2007


Reconhecemos que tal decisão é resposta à prece que sempre fazemos em nossos ritos de Oração Matutina/Vespertina … Assim, afirmamos nosso compromisso pastoral para com essas pessoas. Cremos que a promessa declarada no rito do batismo: “És de Cristo para sempre!”repousa sobre todos nós e, portanto, não nos cabe decidir quem pertence ou não a Deus. 


Neste momento de mudança, reafirmamos nosso compromisso de ser uma Igreja que Acolhe e Serve, reconhecendo o sensus fidelium declarado na última CONFELIDER: defender os Direitos Humanos e o Direito à Cidadania plena. Entendemos que esse compromisso é decorrência dos votos que fazemos perante o altar em nossa confirmação: “Defenderás a justiça e a paz para todos, respeitando a dignidade de todo ser humano” Louvamos a Deus pelos avanços conquistados, entendendo que fazem parte da sutil e gradativa inspiração do Espírito Santo para transformar nossa sociedade. 


Conclamamos todos os anglicanos e as anglicanas a acolher as pessoas que nos buscam, a orar por elas e acompanhá-las pastoralmente, entendendo que a Igreja é um edifício ainda em construção e que a totalidade de sua membresia só é conhecida pelo próprio Cristo, Senhor da Igreja.

Carta Pastoral


“Comprometidos com a Dignidade Humana” do Bispo Primaz, sobre a decisão de reconhecimento de uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, 2011


Nossa pastoral aceitou o desafio de proclamar que todas as pessoas são de Cristo. E também o desafio de buscar e acompanhar pastoralmente a todas as pessoas que se chegam a nós enquanto igreja, buscando um espaço onde possam crescer no Evangelho sem serem julgadas quanto à sua orientação sexual. Muitos de nós viemos de outras igrejas. Muitos de nós sabemos o quanto há pessoas nascidas e criadas na Igreja, mas que ao chegarem à puberdade, descobrem-se atraídas por pessoas do mesmo sexo, algo que nunca pediram ou desejaram. Simplesmente aconteceu.


Nós entendemos que não é lógico defender que a homossexualidade (e a bissexualidade) não se trata de mera perversão ou possessão demoníaca, e sim apenas uma variação da sexualidade humana, que ocorre em parte da humanidade. É essa humanidade, em sua amplitude, que somos chamados a amar.



À luz do método anglicano (Escrituras-Tradição-Razão), muitos de nós chegamos à conclusão de que relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, pautados pelos Frutos do Espírito, pela fidelidade, monogamia e pelo amor mútuo não somente não encontram condenação por parte de Deus como também devem ser celebrados pela igreja, com a mesma compaixão e alegria com que celebramos o matrimônio de pessoas heterossexuais, seja em primeiras núpcias, seja após divórcio(s), seja entre jovens férteis, seja entre pessoas da terceira idade.


Muitos heterossexuais não escolhem poder se casar. Eles têm a oportunidade. Já nossos membros em relacionamentos do mesmo gênero podem até se casar no civil, mas não no religioso, pois a IEAB não lhes oferece o rito sacramental. Entendemos que negar tal rito a essas pessoas apenas com base no gênero dos nubentes é discriminar parte dos batizados. Ou seja: é discriminar parte do Corpo de Cristo.


Nossa teologia do Matrimônio vem evoluindo. Durante boa parte da era cristã, tratava-se meramente de um contrato, sem sentimentos e por conveniência. Muitos de nossos pais e mães na fé se casaram assim. Mas chegamos a outras conclusões.


Entendemos que muitas pessoas têm rejeições genuínas à proposta de bênção matrimonial para casais do mesmo sexo. Essas rejeições baseiam-se, sobretudo, no entendimento de seis ou sete versículos bíblicos esparsos, que são interpretados por muitos como condenações divinas à homossexualidade. E também acreditamos que não houve ainda o diálogo necessário sobre Bíblia, sobre a natureza do matrimônio e sobre o que é incluir todas as pessoas no Corpo de Cristo.


É por isso que oferecemos a cada um de vocês este material. Leiam esses artigos. Entendam o que pensamos. Discutam. Permitam-se enxergar o nosso ponto de vista. Estamos abertos a enxergar o seu também.


E, por favor, orem por nós. Pois estamos também discernir o que o Espírito Santo quer nos falar como Igreja. Tenhamos coragem de olhar nos olhos uns dos outros e enxergar a todas as pessoas como irmãos. Ousemos amar até mesmo aquelas pessoas de quem (muito) discordamos.


 Em Cristo, que nos torna um.

Equipe Episcopaz.


NOTA: Se deseja obter o material que foi distribuído em nosso Sínodo (novembro/2013), acesse por aqui o site do Palavra Aberta.


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