Mulheres clérigas e a absurda liberdade de Deus chamar quem Ele quer



Foto por Nina Boe


:: Com o passar dos anos a maturidade e uma certeza: Deus (que não tem gênero) sabe ser Deus!


E pensar que não muitos anos atrás, lá pelos idos dos anos 70 e 80 altos debates se levantaram na Igreja de Cristo sobre a possibilidade de ordenação feminina, concedendo a elas os mesmos privilégios masculinos... como se Deus, logo quem, Deus se apequenasse com a formação sócio-cultural que carregamos...


No entanto, infelizmente, milhares e milhares de cristãos por todo o mundo ainda se confessam – orgulhosamente, diga-se – defensores de conveniências sobre as literalidades bíblicas. Sim, é conveniente crer que a mulher não seja mais objeto ou propriedade de ninguém, no entanto, é conveniente crer que a mulher não possa pastorear ou superintender comunidades com homens (o que "eles" chamam de exercício de autoridade sobre "o cabeça", isto é, o homem). Estranho, não? Para eles, entretanto, é conveniente que permaneça assim...


Dessa forma, seguem num outro ritmo, crendo convictamente numa espécie de preferência ou primazia divina pelo masculino tal como escrito em muitos textos bíblicos (que retratam uma época em amadurecimento, ou seja, um conjunto de categorias de formação sócio-política-cultural). Não é fácil desconstruir este edifício de categorias aprendidas, bem sabemos. Imagine uma criança fazendo um trabalho escolar numa escolinha do pequeno estado sulista norte-americano do Arkansas, desenhando um presidente negro em pleno anos 60?! Trazendo para nossa realidade, imagine uma criança, moradora de qualquer cidade em nosso país, na mesma época, fazendo um trabalho escolar e desenhando uma mulher com faixa presidencial no Palácio do Planalto!


O que se diria à vista dessas coisas? Alienação, inversão de valores, fantasia ou apenas um sonho a ser tornado realidade numa outra época, distante das sombras do que estava sendo revelado?


Obviamente somos sujeitos da própria História, caminhando conforme o olhar da porta aberta dentro de uma determinada época. Mas também somos homens e mulheres de fé, que não tememos ousar e olhar para além da fresta da porta entreaberta!


Não é fácil confiar e crer contra a esperança. Não é fácil crer na liberdade de Deus, que assusta bem mais que os textos de Clarice Lispector são capazes de imaginar. Não é e não foi fácil abrir mão do peso da "formatação cultural" e saltar na fé, discernindo e crendo que Deus é o mesmo muito antes da época das cavernas, assim como ao longo de todas as Eras onde a mulher não era contada nos censos (pois era "coisa", "objeto", "posse de seu marido ou pai") e, mesmo depois de contada nos censos, impedida de exercer plenamente seu papel cidadão e, por que não, cristão.


Até bem pouco tempo atrás, já na era de informações tecnológicas em evidência, adentrando nos anos 90, é que os olhos de muitos foram descortinados e o lençol dos preconceitos (numa referência ao lençol com alimentos supostamente impuros que descia na visão de Pedro em Jope), pouco a pouco, conforme a medida de fé, de se entregar ao mistério da Palavra (para além do escrito!), foi sendo revelado e eliminado das consciências pela Graça de Deus.


Deus sabe ser Deus; nós é que ainda estamos aprendendo Nele a sermos filhos e filhas provados e aprovados, diariamente. Talvez por isso, alguns entre nós ainda O vejam como Aquele preso e encarcerado aos "textos sagrados", às nossas "convenções culturais" (que são acordos construídos a cada época), à nossa "moral" (que é também uma construção, um acordo da maioria sobre a minoria), a tanta coisa. Ora, Deus que é Deus não está encarcerado, mas é tão livre quanto o vento. Todavia, Ele é o Senhor dos ventos, das Épocas, das Eras, da História... Ele é "o" Senhor sobre tudo e todos; e nada, absolutamente nada, pode impedir o seu agir!


"...agindo eu, quem o impedirá?", pergunta a profecia de Isaías.


Quem é que pode impedir Deus de chamar e capacitar a quem Ele, o Soberano, quiser? Quem?


Ricardo Pinheiro
MOVIMENTO EPISCOPAZ
Anglicanos pró-diversidade & pela paz
19/11/2013

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Comentários

  1. Se Deus quisesse chamar mulheres ele teria chamado seis discípulos e seis discípulas.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Deus é Deus, sempre.

    É bem maior que tudo aquilo que Dele pensamos. Se Deus quisesse caber dentro da pretensão humana de achar que Deus só chama e somente valida o que nós compreendemos, tornaríamos Deus refém de nós mesmos.

    Que bom saber que Deus vai além! Que bom saber que Deus chama quem Ele quiser (o nome disso é Soberania)! Que bom saber que a loucura de Deus é mais sábia que todas as sabedorias humanas!

    Que bom saber que Ele é Deus que caminha com Seu povo... e chama discípulos e discípulas a qualquer tempo!

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