:: Se eu tiver filhos gays: quatro promessas de um pastor cristão e pai
Às vezes eu penso se terei filhos gays.
Eu não sei se outros pais
pensam sobre isso. Mas eu penso. Muito frequentemente.
Talvez seja porque eu tenha
muitos gays na minha família e círculo de amigos. Está em meus genes e em minha
tribo.
Talvez seja porque, como
pastor de estudantes, eu tenha visto e ouvido as histórias de horror de
crianças cristãs e gays, dentro e fora do armário, tentando fazer parte da
igreja.
Talvez porque, como
cristão, eu interaja com tantas pessoas que acham a homossexualidade a coisa
mais repulsiva de se imaginar e que fazem questão de deixar isso abundantemente
claro a cada oportunidade.
Qualquer que seja a razão,
eu penso nisso frequentemente. Como pastor e como pai eu quero fazer algumas
promessas a você e aos meus dois filhos.
1) Se eu tiver filhos gays, todos vocês saberão disso.
Minhas crianças não serão
nosso mais bem guardado segredo familiar.
Eu não vou desconversar com
estranhos. Eu não vou falar em linguagem vaga. Eu não tentarei colocar um venda
nos olhos de todos e eu não pouparei as emoções dos mais velhos, ou dos que se
ofendem facilmente ou dos desconfortáveis. A infância já é difícil o suficiente
e a maioria dos gays passa sua existência se sentindo horríveis,
excruciantemente desconfortáveis. Eu não colocarei os meus filhos em mais
desconforto desnecessário só para fazer o jantar de Ação de Graças mais fácil
para um primo de terceiro grau rancoroso.
Se meus filhos saírem do
armário, sairemos do armário como família.
2) Se eu tiver filhos gays, eu orarei por eles.
Eu não orarei para que eles
sejam “normais”. Já vivi o suficiente para saber que, se meus filhos forem
gays, este é o normal deles.
Eu não orarei para Deus
curá-los ou consertá-los. Vou orar para que Deus os proteja da ignorância, do
ódio e da violência que o mundo despejará sobre eles simplesmente por eles
serem quem são. Vou orar para que Deus lhes coloque um escudo de proteção
contra aqueles que os desprezam e querem machucá-los, que os amaldiçoam ao
inferno e que os colocam como condenados sem nem mesmo conhecê-los. Eu orarei
para que eles apreciem a vida, o sonho, que sintam, que perdoem e amem a Deus e
a humanidade.
Acima de tudo, orarei para
que meus filhos não recebam o tratamento nada cristão de suas ovelhas mal guiadas
a ponto de afastá-los de seus caminhos.
3) Se eu tiver filhos gays, eu os amarei.
Não estou falando de um
amor distante, tolerante e cheio de reservas. Será um amor extravagante, de
coração aberto, sem desculpas. Aquele tipo de amor que constrange na porta da
escola.
Eu não vou amá-los apesar
de sua sexualidade nem vou amá-los por causa dela. Vou amá-los simplesmente por
serem quem eles são: doces, engraçados, carinhosos, inteligentes, legais,
teimosos, originais, lindos e… meus.
Se meus filhos forem gays,
eles poderão ter milhões e milhões de dúvidas sobre si mesmos, sobre o mundo,
mas nunca terão um segundo de dúvida sobre o amor que o pai deles sente por
eles.
4) Se eu tiver filhos gays, basicamente, terei filhos gays
Se meus filhos forem gays –
e eles já são bem gays… [gay
em inglês significa, antes de tudo, alegre] Bem, isso quer dizer que Deus já os
criou e os moldou e colocou neles a semente de quem eles são dentro deles. O
Salmo 139 diz que Ele “os costurou no útero de sua mãe”. Para mim isso quer
dizer que as incríveis e intricadas coisas que os fazem almas únicas na
história foi colocado em suas células.
Por isso, não há um
“deadline” para a sexualidade deles pela qual eu e sua mãe estejamos orando
fervorosamente. Eu não acredito que haja alguma data de expiração mágica se
aproximando quando eles “se tornarão héteros”.
O que há hoje é uma simples
e jovem versão de quem eles serão; e hoje eles são incríveis.
Muitos de vocês podem se
ofender com tudo isso. Eu percebo totalmente. Eu sei que isso deve ser
especialmente verdade se você é uma pessoa religiosa, que acha esse tópico
totalmente nojento.
Conforme vocês foram lendo
isso, podem ter revirado os olhos ou selecionado trechos das escrituras para
enviar ou orado para que eu me arrependa ou se preparado para deixarem de ser
meus amigos ou me chamado de pecador, mau, herege condenado ao inferno… Mas da
forma mais gentil e compreensiva que eu possa ser, digo uma coisa: não dou a
mínima.
Isto não diz respeito a
você. Isto é muito maior que você.
Você não é a pessoa que eu
esperei ansiosamente por nove meses. Você não é a pessoa pela qual eu chorei de
alegria quando nasceu. Você não é a pessoa a quem dei banho, alimentei,
balancei para dormir durante as noites. Você não é a pessoa a quem eu ensinei a
andar de bicicleta e cujo joelho esfolado eu beijei ou cuja mão eu segurei
enquanto levava pontos. Você não é a pessoa cuja cabeça eu amo cheirar, cujo
rosto ilumina quando eu chego em casa à noite e cuja risada soa como música
para minha alma.
Você não é a pessoa que
diariamente me dá significado e propósito e que eu adoro mais do que jamais
imaginei adorar algo. E você não é a pessoa com quem eu espero estar quando der
meus últimos suspiros neste planeta, olhando para trás agradecido por uma vida
de tesouros compartilhados, sabendo que eu te amei da maneira certa.
Se você é pai, eu não sei
como você responderá caso seus filhos sejam gays, mas eu oro para que você
considere isso.
Um dia, a despeito de suas
percepções sobre seus filhos ou de como foi sua paternidade, você talvez tenha
que responder para uma criança assustada e ferida, cujo sentido de paz,
identidade, aceitação, na verdade seu próprio coração, serão colocados em suas
mãos de uma maneira que você nunca imaginou. E você terá de responder a isso.
Se este dia chegar para
mim, se meus filhos saírem do armário para mim, este é o pai que eu espero ser
para eles.
** Nota da Pastoral: John Pavlovitz é blogueiro e pastor assistente na Igreja Metodista Unida do Bom Pastor, Charlotte, Carolina do Norte, casado e pai de dois filhos. Para ler o texto diretamente do blog do Pr. John, acesse aqui.
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