:: A Igreja como Farol e os indabas em 2014



:: Aos que participarão dos indabas

Companheiros por um mundo mais justo e igualitário, servos do Cristo Pobre e Marginal de Nazaré, cujos pés empoeirados e não ter aonde reclinar a cabeça denunciam ao lado de quem sempre esteve, é chegada a hora. Sim, hora do desafio de buscar ser Igreja para todas as pessoas, todas elas. 

Em Cristo e na Sua Igreja (notem: é Dele, não nossa, por isso é livre de quaisquer amarras) não podem haver pessoas ou famílias postas à margem. Isso se dá no mundo, que não conhece a Deus e rejeita Sua Palavra Encarnada (Verbum Dei). Entre nós, não. Pessoas e famílias, reconhecidas por nosso ordenamento jurídico, são trazidas para perto. São incluídas, de fato. Ao menos deveriam ser...

Mas não são? Não. Exemplos não nos faltam que nem todas as famílias são vistas como tais. Do ano passado para cá contabilizamos dezenas de casais homoafetivos em nossas comunidades que nos escrevem falando de seu amor ao Evangelho e o desejo de servir em nossa Igreja. Suas famílias, quase sempre, são reconhecidas "a boca miúda", sem oficialidade e sem publicidade... Em outras palavras: ainda encontram-se nas margens. 

Que discípulo de Cristo pode se conformar com seu irmão/sua irmã/seus irmãos vivendo nas margens, não incluídos na integralidade como as demais famílias?

Que Cristianismo é este em que a ética dos evangelhos vem sendo usurpada pela moral imposta pela maioria sobre a minoria? Lembremo-nos sempre que o gênesis do Ministério Profético de Cristo é tomar as “talhas que os judeus usavam para as purificações” e dar-lhes novo sentido, enchendo-as de vinho. Recordemos que é desta forma que Ele dá seu primeiro sinal público daquilo que realizaria para escândalo das estruturas corrompidas do mundo e seus sistemas-filhotes, como a exclusão, a subclassificação de filhos legítimos (heteronormativos) e bastardos (todos aqueles que a moral nascida entre os homens categorizar como fora da fôrma aprovada pelo "acerto" da maioria), entre outros que não têm parte com Cristo.

Não há como se conformar com as forças excludentes do mundo e seus sistemas que jazem no maligno, que medem e sempre medirão pessoas... Nós não somos mundo; antes, dele fomos resgatados para o reino do Filho de Seu Amor!

Não buscamos aqui "chover no molhado" e expor o que todo cristão já sabe de cor e salteado, a saber: que tudo seu deu tão somente por Graça... Pela Graça fomos salvos, e resgatados, e transportados, e tornados "justos e justas" pela fé, e glorificados com o Filho, e assentados nas regiões celestiais em Cristo. E o mais assombroso (ou seria maravilhoso?): "e isto não vem/veio de vós; é dom de Deus. Não de obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2,8-9).

Conclamamos você, que estará presente nos indabas a ser nossa voz, a ser a voz da Liberdade e da Igualdade do Evangelho. Lembre-se que foi apenas por Graça que fomos chamados e somos aceitos e incluídos.

Heteroafetivos e homoafetivos não podem se gloriar senão na Cruz; jamais por obras, por orientação ou por acerto "cultural" da maioria sobre a minoria. Bom que se diga: jamais por obras produzidas por nós ou em nós, pois foi dom de Deus. Conclamamos também a você que deseja os desejos do Reino de Deus e ora para que os indabas que acontecerão em diversas áreas de nossa Província (de set/dez) reafirmem, de uma vez por todas, o que todos nós gostamos de ficar curtindo pelas redes sociais.
 

É a hora do 'vamos ver', fora do universo da virtualidade. É a hora de reafirmar se queremos continuar no século XXI e, historicamente, continuar caminhando em prol da dignidade de todas as pessoas, ou se preferimos os ventos do neoconservadorismo que, por razões intrinsecamente culturais ou de crise ideológica, atingem, respectivamente, a imensa maioria das províncias anglicanas africanas (não todas, graças a Deus!) e alguns setores pontuais europeus (nem todos, graças a Deus!) desapontados com a perda de espaço no cenário religioso. 
 

Cristo é Senhor de Todos e Todas. O Seu Amor incondicional é a nossa "chave hermenêutica" para compreender todos os textos da Escritura, isto é, que não há mais diante Dele homens ou mulheres, judeus ou gregos, brancos ou pretos, ricos ou pobres, altos ou baixos, heteroafetivos ou homoafetivos, cidadãos de 1ª ou de 2ª classe... 

NÃO HÁ MAIS!

NÃO HÁ MAIS!

NÃO HÁ MAIS!

Se o contra-argumento precisa de melhor respaldo da sociedade civil e do ordenamento jurídico, é a hora de estar ao lado das seguintes instituições: ONU - Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (resolução contra discriminação aos direitos dos LGBTs assinada desde 17 de junho de 2011, da qual o Brasil é signatário), STF - Supremo Tribunal Federal, STJ - Superior Tribunal de Justiça, CNJ - Conselho Nacional de Justiça, AMB - Associação dos Magistrados do Brasil, OAB - Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, CFESS - Conselho Federal de Serviço Social, CFP - Conselho Federal de Psicologia, CSMPF - Conselho Superior do Ministério Público Federal, Conselho Superior da Defensoria Pública, Sociedade Brasileira de Psiquiatria, ABI - Associação Brasileira de Imprensa, para não citar as entidades culturais, entre outras.


Por tudo o que a Igreja Anglicana representa em termos de inclusão, respeito e compromisso histórico com os Direitos Humanos, em especial de povos e pessoas excluídas, marginalizadas ou postas à margem de seus direitos, não há como voltar atrás no seu próprio currículo, no seu compromisso com as causas viscerais do Evangelho e não se posicionar como Farol de Justiça e Abrigo de todo cansado, oprimido e sobrecarregado, como sinal visível no mundo de uma agência do Evangelho de Cristo. 

Pensemos todos nisso e continuemos a orar e a testemunhar que defendemos a justiça para todos e respeitamos a dignidade de todas as pessoas.

Igreja somos todos nós chamados por Jesus a sermos "luzeiros deste mundo" (Mateus 5,14), isto é, Farol. Igreja apenas para alguns já é outra coisa...

Sob a luz da santa inspiração Daquele que é Senhor de Todos e Todas, o qual não faz parte dos acertos dos homens, sejam da maioria sobre a minoria, sejam da minoria sobre a maioria,

Movimento Episcopaz
Anglicanos Pró-Diversidade & Pela Paz
22 de setembro de 2014

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