:: O Irã que não queremos em lugar algum!


Documentário sobre os transexuais no Irã (legendado)



Um relato triste de uma sociedade cujas leis sofrem fortíssima intromissão da religião oficial, a qual não apenas regulamenta mas comanda a República Islâmica do Irã depois da revolução de 1979. Desde então, os aiatolás são a autoridade política máxima, cujo poder se sobrepõe ao do presidente e do parlamento.

A partir do olhar interpretativo obtuso de uma única forma de ver a vida e todos os seus múltiplos fatos e nuances a sociedade iraniana sofre o rigor do controle religioso sobre cada passo dado, sobre cada consciência sendo gerada nas escolas desde a mais tenra idade, tudo, repita-se, sob a atenção das leis islâmicas vistas a partir do que os aiatolás compreendem e autorizam. Liberdade para pensar diferente? Esqueça. Liberdade para crer diferente? Somente em casos específicos e com prévia autorização (é o que acontece com os cristãos naquele país, uma minoria que recebe alguns direitos, mas não todos). Liberdade para ser diferente? Impossível.

A sociedade regulada pela religião é imprensada entre os muros altos do que pode e do que não pode acontecer, segundo o acordo de uma minoria radical que se alimenta de poder: a altíssima classe dos religiosos (aiatolás).

No aspecto moral, do ponto de vista da sexualidade, as famílias sentem vergonha e excluem seus filhos se acaso qualquer deles ousar expressar a verdadeira sexualidade que forma o ser.  As leis criminais tratam a homoafetividade como crime passível de chibatadas públicas ou até morte pelos métodos mais medievais (apedrejamento ou enforcamento). Empregos se perdem. Heranças são confiscadas pelo Estado. Famílias, como reflexo desse sentir coletivo, preferem simplesmente esquecer que o filho ou a filha “imoral” um dia fez parte da grei. Tudo em nome de seu Deus, segundo a visão ensinada pelos seus líderes e disseminada com a ajuda da impiedosa Patrulha Moral, o horror dos direitos humanos ocidentais.

Expulsos, restam-lhes aos tais filhos viver na clandestinidade e matar um leão por dia para ter o que comer ou sair do país. A maioria, no entanto, prefere viver vida dupla, tomando mulheres como esposas e as fazendo duas vezes infelizes. Segundo fontes do jornal britânico The Guardian, a maioria dos gays e das lésbicas prefere ser infeliz e aceitar a imposição das famílias para se casar e não lhes “envergonhar”. Eles passam a viver de muitos e perigosos casos extraconjugais, tentando eclodir o desejo brutalmente reprimido naquela sociedade por algumas horas onde possam ser de fato quem nasceram para ser. Revoltados, atingem suas esposas ou seus esposos... e todos adoecem profundamente na alma ao final.

No caso dos transexuais, em que pese a autorização do governo (e a cobertura de parte dos custos) para as cirurgias de redesignação sexual, o que há por trás não é tão somente um caso de saúde pública mas o alimento à cadeia de intolerância social, reforçando os estigmas e tentando empurrar para debaixo do tapete a realidade que não admitem, ou seja, a existência das muitas sexualidades, em especial a homoafetiva. Os transexuais femininos,  vítimas daquela sociedade construída nos chamados valores religiosos determinados por acordo de um grupo, se veem como mulheres, pois ser trans é tão inadmissível quanto ser visto como gay. Perdem-se direitos. Perde-se a família e todo o referencial de sua própria identidade. E tudo o que mais temem é serem levados à pena capital.

Uma sociedade que não respeita a dignidade de seus próprios cidadãos nem as diferenças existentes entre cada ser humano está longe de ser uma nação onde o povo seja seu maior compromisso, onde direitos fundamentais sejam assegurados, porquanto intrínsecos e visceralmente ligados ao indivíduo. Triste, mas lugares assim, controlados pelo fundamentalismo da religião, como o Irã, se tornam tudo aquilo que não desejaríamos aos piores inimigos.

O vídeo em destaque nesta postagem é um documentário sério sobre a vida dos cidadãos iranianos transexuais que desejam a cirurgia de redesignação sexual no Irã, muitos deles, infelizmente, pagando um alto preço para não viverem nas prisões de alma e naquelas que estão em toda a sociedade corrompida pela moral perversa, tirana e homofóbica que lhes cercam.

Ora, o documentário também nos serve como alerta para que atentemos que o estado laico é a mais democrática forma de impedir que seres malignos assassinem consciências e que pessoas sejam dizimadas no rigor da lei, forçando cidadãos a se anularem enquanto indivíduos para não serem tipificados como transgressores.

Infelizmente, na contramão de tudo isso, parlamentares brasileiros eleitos por organizações religiosas fundamentalistas, a maioria delas igrejas, se articulam para que o que nós não queremos nem nossa Carta Magna autoriza, seja revisto ou reinterpretado, a fim de que a maldade que lhes habita impeça a aprovação de leis que extirpem de nossa sociedade o preconceito e todas as formas de intolerância (perpetradas quase sempre e paradoxalmente a partir das igrejas e, por consequência, da formação familiar ) ou, ainda, aprovem leis para "cura gay", derrubem resoluções dos conselhos federais de psicologia e serviço social que proíbem tratar a homoafetividade como castigo, doença ou distúrbio, entre muitas outras ações em curso neste momento e outras que certamente virão com a posse dos novos parlamentares religiosos fundamentalistas eleitos em 2014.

Oremos e não desanimemos, pois nada nem ninguém pode impedir que a verdade e o amor sejam destronados! Ai daqueles que perverterem a justiça, tratando-a como refém de sua visão apequenada e vil!




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