:: O Bom Casal Gay ::..
(Inspirado na parábola do bom samaritano e no texto “O Bom Travesti”, de Rubem Alves)
E numa tarde de
domingo, vários pastores e líderes evangélicos e católicos, também apoiados
pela ala “cristã” da Câmara e do Senado, encostaram Jesus na parede e lhe
fizeram a pergunta crucial: Diga-nos logo quem são aqueles que fazem a Tua
vontade e amam o próximo segundo a Tua verdade?
E Jesus então
lhes contou uma história:
Um bebê foi
abandonado por seus pais num valão que ficava entre duas igrejas: uma catedral
católica, tradicional na cidade por sua beleza e imponência arquitetônica e um
mega-templo evangélico, repleto de carros do ano à porta, cujo pastor ostentava
seus muitos dotes financeiros em ternos de corte impecável e carros importados
de causar inveja aos maiores empresários da cidade.
O pastor e sua
esposa iam para o culto e ao pararem num sinal de trânsito perceberam o bebê
jogado no valão, abriram o vidro blindado do seu carro e ouviram o choro da
criança. Repreenderam o demônio que havia na “mãe tão desnaturada” que havia
abandonado a criança ali, e já pensaram em organizar a Marcha Profética pelo
fim do abandono de crianças. No entanto, devido às muitas viagens “em nome de
Deus” e também do gasto que já tinham de condomínio e manutenção dos carros
importados, não poderiam assumir o risco de levarem aquela criança pra casa,
pois além dos gastos que lhe trariam, não sabiam sua procedência e se havia
sobre ela qualquer espécie de maldição.
O sinal abriu, e
partiram, orando por aquela situação.
Logo depois, no
mesmo sinal passou um casal de católicos fervorosos. Há 20 anos lideravam
movimentos de Encontros de Casais com Cristo, além do marido ser atuante nos
Cursilhos de Cristandade. Viram aquela cena e choraram ao ouvirem o choro da
criança abandonada. Falaram sobre as diversas Campanhas da Fraternidade, de
como aquele quadro deveria ser mudado, perguntaram entre si pela turma da
Teologia da Libertação, que não aparecia naquela hora e lamentaram não poder
levar o bebê, devido ao fato de já terem gastos excessivos com seus cães
labradores, ganhadores de concursos regionais. Mas saíram dali dispostos a
participarem da próxima Marcha pela Família, organizados pelos setores de
defesa da vida da sua igreja.
Choraram muito.
Pararam o carro, desceram e pegaram o pequenino no colo. Seus corações arderam
de amor por aquela vida tão frágil e indefesa que decidiram leva-la para o
apartamento em que moravam, que passava por uma reforma, e decidiram deixar
para depois a conclusão da sala-de-estar e transformaram o espaço no quarto do
bebê. Deram-lhe o nome de Daniel, que um dos dois lembrara
significar “Deus é meu juiz”, e o bebê agora sorria, ao tomar seu primeiro
banho, nos braços dos seus novos pais…
E Jesus,
encarando os olhares furiosos daqueles que estavam ali lutando pela honra da
família cristã, perguntou:
- Qual destes
casais provocou um sorriso de aprovação na face amigável de Deus?
José Barbosa
Junior, maio/2011
Comentários
Postar um comentário
Semeie seu comentário aqui: