:: Uma questão com muitos rostos e muitos nomes ::


Cristianismo deveria ser um balizador entre o justo e o injusto, o solidário e o implacável egocentrismo humano. Nem sempre é assim porque interesses surgem. No meio dos interesses a decisão de ignorar que o outro também pode ser sujeito de direitos.  

Ao lutar pela igualdade parece que nem todos falamos a mesma língua. Igualdade, alguns até querem, mas naquele velho e conhecido limite:  “desde que não tenham os mesmos direitos que nós”.

Nesta sexta-feira a república da Irlanda, que não compõe o Reino Unido, foi às urnas no histórico referendo sobre a aprovação do casamento igualitário ou não (antes mesmo que houvesse qualquer lei neste sentido, no Parlamento). Trata-se de uma consulta à população. Das 4 maiores igrejas cristãs da Irlanda, 3 se posicionaram contra, entre elas a Igreja Católica Romana e a Igreja Presbiteriana. O Primaz romano da Irlanda,  Arcebispo Eamon Martin,  disse na semana passada que "não há motivos para considerar as uniões homossexuais nem remotamente análogas à família" e pediu esforços dos bispos junto aos fieis para impedir o “sim”. A Igreja da Irlanda (Comunhão Anglicana), através da Câmara dos Bispos,  reafirmou que na tradição anglicana as questões de consciência são pessoais, por isso não faria campanha nem pró nem contra.

Na contramão do silêncio, o bispo da diocese de Cork (Comunhão Anglicana), Revmº Dr. Paul  Colton, que na semana passada recebeu na sede da Prefeitura o Prêmio LGBT de Cork 2015 pelos esforços na luta contra a homofobia na cidade, disse:

“Esta é uma semana decisiva para nossos grupos de parceiros na sociedade civil em Cork. Estou feliz em poder apoiar a apoiar esses parceiros, até porque a semana também visa combater a homofobia que ainda, surpreendentemente, existe em nossa sociedade. Além disso, é importante, a partir de uma perspectiva cristã, reconhecer que muitas pessoas LGBT também são povo de fé, participando ao máximo na vida de nossas igrejas, como têm sido ao longo dos séculos; elas contribuem significativamente na nossa vida espiritual e religiosa. Em termos mais amplos, como Igreja, queremos afirmar que nossas portas estão abertas a todas as pessoas, não importam quem sejam, e onde estejam em sua jornada de fé.”



No domingo, pregando em sua Catedral, o bispo Colton voltou a afirmar: "Um dos riscos de qualquer grande debate em qualquer comunidade, sociedade ou instituição, é quando tomamos para nós a segurança relativa de uma linha de batalha para criar uma discussão sem colocar os nomes, os rostos e a própria experiência humana na questão", disse na sua pregação na Catedral de São Fin Barre, em Cork (Irlanda).



Campanha do "sim" no referendo que o governo da Irlanda promoveu nesta histórica sexta-feira: Juntos podemos fazer de 2015 o ano da igualdade e da equidade

E concluiu, no seu sermão, que é muito fácil desumanizar e estigmatizar outros filhos de Deus quando nós nos permitimos deslocar  pessoas e suas histórias do campo das ideias. Rótulos e categorias - como "desempregados", "pessoas com deficiência", " imigrantes", "gays", "mães solteiras", "sem-teto", "tradicionalistas", " liberais" - são convenientes formas de remover rostos e a própria experiência humana do que estava sendo dito.

R. P.

Movimento Episcopaz

Episcopais Anglicanos Pró Diversidade e Pela Paz


Fontes: Irish Examiner (edição de 18/05/2015), Christian Today (edição de 21/05/2015) e The Irish Times (edições de 22/04 e de 11/05/2015).

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