:: Jonathan Myrich Daniels, o mártir dos Direitos Humanos ::





Comemoramos hoje, 20 de agosto,  a memória que o exemplo e a vida de Jonathan Daniels nos deixou, sendo ele um jovem seminarista de 26 anos de idade, ativista dos Direitos Humanos, considerado um dos vinte mais influentes mártires contemporâneos da Igreja de Cristo.

Seminarista episcopal norte-americano, ciente do apelo dos irmãos negros no sul de seu país, que lutavam contra a segregação em suas cidades e estados, resolveu atender o chamado do Rev. Martin Luther King nas suas férias e seguir para Selma, Montgomery e Lowndes, as cidades onde ferviam os conflitos que massacravam os negros, que reivindicavam os mesmos direitos civis que só eram oferecidos aos brancos.

Em Fort Deposit, Alabama, em 14 de agosto de 1965 foi preso com diversos militantes dos Direitos Humanos por protestar contra a decisão do condado de Hayneville de permitir somente alunos brancos nas escolas públicas de ensino médio. Este dia é  tido como o início dos últimos seis dias de vida Jonathan Daniels (por isso a Igreja Episcopal americana consagra esta data em sua memória; a IEAB o faz neste 20 de agosto, dia de seu martírio), mas foi em 20 de agosto de 1965 que Jonathan Daniels, à época com 26 anos, no dia em que foi liberto da carceragem de Hayneville, foi covardemente assassinado pelas costas por um vereador branco representante de uma das famílias mais tradicionais daquela cidade, que gritava contra seus dois amigos negros por estarem caminhando na mesma calçada que brancos. 

Ao lado de seu amigo e também ativista, o padre católico Richard Morrisroe, e dois manifestantes negros, Joyce Bailey e Ruby Sales, caminhavam para comprar um refrigerante para o grupo numa lojinha a poucos metros da carceragem, mas foram pegos de surpresa ao sair. Do lado de fora, Thomas Coleman, empunhava uma espingarda calibre 12 e grosseiramente deu ordens para que saíssem da cidade, proferindo ofensas contra seus companheiros negros.

Em questão de instantes, quando percebeu que Ruby Sales, uma adolescente negra com 17 anos de idade iria ser atingida, Daniels avançou sobre ela e a empurrou para o chão, sendo alvejado e morreu na hora. O assassino ainda atirou no pe. Morrisroe que, mesmo ferido, correu com os demais, batendo nas portas das casas pedindo socorro mas não sendo acolhido por ninguém. Ele e os demais sobreviveram.


Ao saber do assassinato de Daniels, Martin Luther King Jr. afirmou que "um dos atos cristãos mais heroicos que já ouvi em todo o meu ministério foi realizado por Jonathan Daniels"

Thomas Coleman, o assassino, alegando legítima defesa, foi absolvido por um júri composto exclusivamente por cidadãos brancos.

Richmond Flowers, à época o Procurador Geral de Justiça do Estado do Alabama,  descreveu o veredicto como representando o "processo democrático indo pelo ralo da irracionalidade, do fanatismo e da aplicação equivocada da lei. Foi mais um assassinato pela Ku Klux Klan em nosso estado”.

Coleman continuou a trabalhar como funcionário público e se aposentou como engenheiro do departamento de rodovia estadual, vindo a falecer aos 86 anos em 1997, sem nunca pagar pelos crimes que cometeu.


O martírio de Jonathan Daniels chocou e ao mesmo tempo empoderou a consciência da Igreja Episcopal a assumir sua luta em favor dos direitos civis e das minorias. Em 1991, a Igreja Episcopal designou Jonathan Myrick Daniels como um mártir, e 14 de agosto como um dia de lembrança para o sacrifício de Daniels e de todos os mártires do movimento dos direitos civis. A Diocese Episcopal do Alabama declarou o 14 de agosto como Dia de Peregrinação pelos Direitos Civis, tradicionalmente fazendo o percurso com orações e cânticos até o local onde Daniels foi assassinado.  

A Abadia de Nossa Senhora de Getsêmani em Bardstown, Kentucky, da Ordem dos Freis Cistercienses, inaugurou um conjunto de esculturas em sua homenagem intitulada “O Jardim do Getsêmani” (1965-1966) pelo escultor Walker Hancock.

Prêmios nacionais de Direitos Humanos, ruas, escolas e centros de Referência em favor da luta contra a desigualdade levando seu nome foram criados. Jonathan Daniels também foi honrado na Catedral de Cantuária, pela Igreja da Inglaterra, sendo lembrado em escultura na Capela dos Santos e Mártires de Nosso Tempo, ao lado de Martin Luther King Jr, Dietrich Bonhoeffer, Oscar Romero, entre outros grandes nomes contemporâneos que morreram pela luta em prol dos Direitos Humanos.


Ruby Sales, a jovem que foi salva por Jonathan Daniels, entrou para o Seminário Episcopal (Episcopal Divinity School) e hoje trabalha como ativista dos Direitos Humanos em Washington, DC, na Missão que fundou no Centro da cidade dedicada a Daniels. É conferencista da Igreja Episcopal. Pregou neste último domingo na histórica igreja de Santo Albano, Washington DC, nas comemorações pelos 50 anos do martírio de Jonathan Daniels.

No calendário dos santos da IEAB o ativista dos Direitos Humanos e seminarista episcopal, Jonathan Daniels, é lembrado todo dia 20 de agosto, dia de seu martírio na defesa das minorias. Há exatos 50 anos, a 20/08/1965, mais uma Grande Nuvem de Testemunhas ouviu sua última e maior pregação, encarnando o Evangelho de Cristo. Estendido numa calçada, após salvar a vida da jovem Ruby Sales, que receberia o tiro de um racista tomado de fundamentalismo religioso, desses para quem supõe que Deus faz acepção de pessoas e famílias, seu corpo tombou. Ali, nascia uma nova consciência para a Igreja Episcopal: abraçar destemidamente a causa das minorias e defender custe o que custar a Justiça para todas as pessoas.


Ricardo Pinheiro
Coordenador do Movimento Episcopaz



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